Por que é preciso falar de doações de órgãos e transplantes?
Porque doar órgãos é um gesto de amor à vida. E a doação só pode ser realizada a partir da autorização por escrito de um familiar do doador. Por isso, é fundamental conversar sobre o assunto em família, na escola, nas universidades, em todos os lugares.
Em meio à pandemia de Covid-19, aumenta a luta de quem espera por transplante
O texto a seguir foi publicado pelo jornal ExtraClasse no dia 8 de março de 2021. Ele faz parte de uma série de artigos que venho escrevendo ao longo dos anos para falar da importância da doação de órgãos e tecidos. Refere-se à situação no Estado do Rio Grande do Sul. Colocar-se no lugar de outra pessoa que precisa de um transplante de órgãos é a melhor maneira de entender o quão importante é ser um/a doador/a.
Somente no Rio Grande do Sul, são 1.749 pessoas na lista de espera, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Dos adultos, 1.005 esperam por rim; 139, por fígado; 16, coração; 106, pulmão; um, pâncreas; dois, pâncreas e rim; e 428, córneas. Das crianças, 22 esperam por rim; nove, fígado; seis, coração; quatro, pulmão; e 11, córneas.
Rochelle Fraga Benites* é uma das pessoas que esperam por pulmão. Ela tem Histiocitose X, uma doença autoimune que atacou seus dois pulmões. Há três anos entrou para a lista de espera por um transplante duplo. Rochelle, que mantinha uma vida super ativa, com três filhos pequenos, que gostava de jogar futebol e andar de skate, hoje depende 24 horas de um cilindro de oxigênio.
Ela vive o terror diário de ficar sem ar quando falta luz, porque seu cilindro de oxigênio é abastecido pela energia elétrica, ou quando a Prefeitura não disponibiliza a quantidade de que precisa para se manter viva. E agora, com a suspensão dos transplantes, sua preocupação aumenta ainda mais.
Em 11 de março, Dia Mundial do Rim, a Fundação Ecarta promoveu um diálogo virtual com Clotilde Druck Garcia, professora de Nefrologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (RS), médica da Nefrologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre e coordenadora do departamento de transplante pediátrico da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Também participaram Fabiana Bender, transplantada renal há oito anos e acadêmica de Medicina, integrante da Associação Brasileira de Transplantados (ABTX), e Maria Lucia Kruel Elbern, psicóloga e psicanalista, mãe de transplantado renal e presidente da VIA Pró-Doações e Transplantes/VIAVIDA.
Em março de 2021, Maria Lucia deu a seguinte entrevista:
Moradia e aconchego para quem segue na lista de espera
Ser doador de órgãos e tecidos não dói, ao contrário. Faz com que a dor de uma família pela perda de um ente querido com morte encefálica seja amenizada. Consola. Ao doar os órgãos desta pessoa, é possível salvar muitas vidas. A psicóloga Maria Lucia Kruel Elbern teve essa certeza quando seu filho de 15 anos precisou de um transplante de rim e não encontrou ninguém compatível na família para doar o órgão, há 22 anos. Lucia começou então a frequentar hospitais, queria saber tudo sobre transplantes, e passou a percorrer escolas, empresas e outros eventos da Capital explicando que a doação de órgãos é um ato de amor e vida.
A espera do filho de Maria Lucia por um rim durou um ano. Neste período, junto com mais voluntárias, contribuiu para aumentar em 30% as doações de órgãos no Estado. Foram aconselhadas pelos médicos a continuarem conscientizando. Ao conhecer pessoas que estavam na lista por um órgão e precisavam voltar para sua cidade, porque não tinham como se manter em Porto Alegre, tiveram a ideia de criar a Pousada Solidariedade, que abriga prioritariamente jovens até 18 anos no pré ou pós-transplante.
Hoje Maria Lucia é uma das responsáveis pelo projeto VIAVIDA, que atua em três áreas: educação, sustentabilidade e assistência. Segue realizando ações em escolas, como a contação da história “A tartaruguinha que perdeu o casco”, para levar informação sobre doação de órgãos e os cuidados com a saúde para evitar a necessidade de transplante. Com a Covid-19, a Pousada teve de diminuir o número de hóspedes por questões sanitárias, mas entre os planos do VIAVIDA para 2021 está o de aumentar a capacidade da casa. Outro projeto, em fase de captação de recursos, tem apoio de profissionais da área médica e visa a contribuir para diminuir a negativa familiar.
Quer saber mais sobre Doações e Transplantes de Órgãos?
A Fundação Ecarta desenvolve o projeto Cultura Doadora que tem como objetivo contribuir na formação de uma cultura de solidariedade e de uma atitude proativa para a doação de órgãos e tecidos. Também visa à qualificação da infraestrutura de atendimento à saúde no Rio Grande do Sul.
O projeto divulga uma série de reportagens e materiais pedagógicos para subsidiar educador@s na abordagem do tema em sala de aula dos diversos níveis de ensino.
O lançamento da Cultura Doadora contou com a presença saudosa do cantor e compositor Luciano Leindecker:
Em janeiro de 2021, devido à pandemia de Covid-19, o Fórum Social Mundial (FSM) teve uma versão virtual. Escrevi dois artigos sobre o FSM para o Jornal Extra Classe:
Reproduzo abaixo um trecho da entrevista com Javier Tolcachier, cofundador do Fórum Internet Cidadã, publicado no jornal Extra Classe:
"O capitalismo se renovou, e hoje o extrativismo digital (ou de dados) faz as empresas de tecnologia disputarem o mercado, valendo tanto ou mais que o petróleo, a indústria automotiva e a venda de armas, alertou, por sua vez, da Argentina, Javier Tolcachier, integrante do Fórum Internet Cidadã.
Tolcachier, que é pesquisador do Centro Mundial de Estudos Humanistas e comunicador da agência Pressenza, informou que o Fórum Internet Cidadã está concluindo um diagnóstico sobre os impactos da Era Digital e em março de 2021 deverá acontecer uma plenária do movimento para traçar um plano de ação comum.
Ele cita elementos que devem estar na estratégia de ação: 1) denunciar a violação de direitos à proteção de dados e criar consciência da necessidade de uma ação coletiva: 2) incorporar a soberania digital no programa de luta em eixos transversais comuns; 3) potencializar alternativas existentes e mudar hábitos de uso; 4) apoiar projetos políticos de emancipação digital".
Obs: É possível acionar a legenda em espanhol. Devido a problemas de conexão com a Internet no dia da gravação, a imagem não tem uma qualidade técnica muito boa, pelo qual peço a compreensão de todes.
A Série Cartões Pedagógicos - "Paulo Freire fisgado pelo olhar das Artes" foi lançada em janeiro de 2021 como parte da Campanha Latino-Americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire. É composta por cartuns e ilustrações especialmente criados por artistas gráficos independentes e integrantes da GRAFAR/RS para comemorar os 100 anos do educador Paulo Freire em 19 de setembro de 2021.
A sugestão é que os cartões incentivem diálogos sobre quem foi Paulo Freire e de que forma suas ideias e metodologias estão presentes no nosso dia a dia. Pode-se estimular que estudantes desenhem e criem seus próprios cartões e exercitem a educação libertadora propagada por Freire.
Clique no vídeo abaixo e conheça os cartões:
Entre @s artistas que produziram e doaram suas artes para esta Série estão Alisson Affonso, Aline Daka, Amaro Abreu, Bier, Edgar Vasques, Fabiane, Latuff. Leandro Bierhals, Natália Forcat, Santiago, Schröder e Vecente. No canal do Freireando POA no Youtube, é possível assistir ao vídeo de cada artista explicando de onde tirou sua inspiração para fazer seu cartão.
Os Cartões Pedagógicos são uma promoção do Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (CEAAL) e do movimento Freireando Porto Alegre (RS).
PERGUNTAS GERADORAS
Os vídeos a seguir também podem ser usados em sala de aula. Nos dois primeiros, há perguntas geradoras que servem de sugestão para os diálogos.
O distanciamento social, as mortes e o contexto de racismo e preconceitos relacionados à pandemia de Covid-19 e à realidade social brasileira estão presentes em músicas que podem ser usadas em aulas e encontros para falar sobre o tema.
Seguem alguns exemplos:
Inumeráveis: Chico César e Mônica Salmaso
É tudo pra ontem: Emicida e Gilberto Gil
2 de junho - Adriana Calcanhoto
Change is Coming - Coral TAPIOLA
Baseado no discurso "No one Is Too Small To Make A Difference" (Ninguém é pequeno demais para fazer a diferença) de Greta Thunberg, 2019
Material de apoio (e inspiração) para oficina de aulas virtuais emergenciais:
TARSILINHA
Zeca Baleiro e Ná Ozzetti cantam a música tema do filme de animação Tarsilinha, produzido pela Pinguim Content. O longa metragem é inspirado na obra de Tarsila do Amaral e conta a história de Tarsilinha, uma menina de 8 anos que embarca numa jornada incrível para recuperar as memórias roubadas de sua mãe.
A canção, composta especialmente para o filme, ressalta a brasilidade presente no longa, especialmente nas suas cores, paisagens e personagens originários da cultura brasileira, como a Cuca e o Saci. “A canção fala da travessia da personagem Tarsilinha por um mundo desconhecido, algo como uma realidade paralela, cheia de perigos e ameaças. Como em toda fábula, essa viagem é uma história de descoberta e autoconhecimento. A música é um baião bem brasileiro com uma pequena alusão à obra de Villa-Lobos”, comenta Zeca Baleiro.
A HORA DO BLEC
Criada pelos atores Yasmin Garcez e David Junior, fala de sustentabilidade e quebra de estereótipos
O vídeo Comida que Alimenta é uma realização do Centro Sabiá, vinculado ao projeto Trabalho, Renda e Sustentabilidade no Campo, patrocinado pela Petrobras. O projeto busca fortalecer as experiências de agricultura Agroflorestal de base Agroecológica na Zona da Mata Sul de Pernambuco, além de ter um forte componente de agregação de valor à produção da agricultura familiar desse território, com a instalação de Unidades de Beneficiamento de frutas e de mel, para atender principalmente as compras institucionais via Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, e o mercado turístico do território. Além de buscar fortalecer a estratégia de comercialização direta produtor/consumidor via Feiras Agroecológicas.
MÁRCIA DO CANTO E A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
A pedagoga e atriz Márcia do Canto dá dicas de brincadeiras, livros, exercícios de contação de histórias.
HISTÓRIA DE BOCA (ÁUDIOS = PODCAST)
Quer incentivar a imaginação através da língua portuguesa? Aqui você vai encontrar histórias para crianças, (re) contadas pelos atores Bia Borinn e Eduardo Munniz.
O Alana é uma organização de impacto socioambiental que promove o direito e o desenvolvimento integral da criança e fomenta novas formas de bem viver.
POVOS INDÍGENAS DO BRASIL MIRIM
O Instituto Socioambiental (ISA) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), fundada em 22 de abril de 1994, por pessoas com formação e experiência marcantes na luta por direitos sociais e ambientais. Tem como objetivo defender bens e direitos coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos indígenas e tradicionais. O ISA produz estudos e pesquisas, implanta projetos e programas que promovam a sustentabilidade socioambiental, valorizando a diversidade cultural e biológica do país.
O Povos Indígenas no Brasil Mirim faz parte deste projeto. Criado a partir do site Povos Indígenas no Brasil, pretende, por meio de material destinado à pesquisa escolar – no qual temas centrais se desdobram em uma série de questões organizadas pela equipe do ISA – que tem como objetivo apresentar a diversidade de povos, romper com a ideia de "todos os índios são iguais" e despertar o interesse e o respeito das crianças às culturas indígenas existentes no Brasil. Tudo isso escrito em linguagem acessível ao público infanto-juvenil.
Abaixo, um exemplo de um dos vídeos disponíveis neste site:
Na Oficina sobre Meio Ambiente e Comunicação realizada em novembro de 2020 para a Fundação Ecarta são citados alguns nomes e filmes, bem como sites para refletir sobre o tema.
Seguem algumas referências, caso queira se aprofundar:
Sobre o uso de mídias sociais, como Facebook, Whatsapp, Google:
JULIAN ASSANGE - fundou o site WikiLeaks em 2006 e ganhou atenção internacional em 2010 quando o site publicou uma série de documentos sigilosos do governo dos Estados Unidos, entre eles o ataque aéreo a Bagdá em 12 de julho de 2007, registros de guerra do Afeganistão e do Iraque e o CableGate (novembro de 2010). Em outubro de 2020 encontra-se sob custódia da Polícia Metropolitana de Londres após ser preso em 11 de abril de 2019, sob a acusação de ter violado as condições estabelecidas na sua fiança em 2010. Antes, ele estava refugiado na embaixada do Equador em Londres, vivendo lá como refugiado de 2012 até seu encarceramento, em 2019.
EDWARD SNOWDEN- analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da Agência Central de Inteligência (CIA) e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA-National Security Agency) dos Estados Unidos. tornou-se conhecido ao divulgar detalhes sobre o sistema de vigilância global norte-americano através dos jornais The Guardian e The Washington Post. O governo dos Estados Unidos acusou-o de roubo de propriedade, comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência. Atualmente, Snowden está na Rússia.
Série O Voto que Devasta - Donos de Gado, Terra, Tv e Rádio De Olho nos Ruralistas
Acusado de grilagem, desmatamento e tráfico, prefeito é retransmissor da Globo em Itaituba (PA): https://bit.ly/38zWLug Por Alceu Luís Castilho e Luís Indriunas
Acúmulo de poder econômico e midiático influencia eleições, afirma Intervozes: https://bit.ly/3loiyZp Por Patrícia Cornils
Sessenta e cinco candidatos a vereador e vice-prefeito são donos de rádios e TVs: https://bit.ly/3nj7gpV Por Alceu Luís Castilho e Sarah Fernandes
Cinquenta e um candidatos a prefeito em 21 estados declaram possuir rádios e TVs: https://bit.ly/3ne3UEl Por Alceu Luís Castilho e Patrícia Cornils
O blog traz conteúdos exclusivos produzidos por jovens comunicadores indígenas de dentro de suas aldeias e comunidades tradicionais sobre como estão enfrentando a pandemia da Covid-19. Cada jovem envia imagens e pequenas histórias para serem publicadas no site da agência Amazônia Real por meio de um aplicativo desenvolvido pela Amazônia Real e pela empresa de tecnologia Cajuideas. Cada comunicador indígena que participa do projeto também é remunerado com bolsas pela produção de conteúdo e receberão equipamentos, como celulares.
Esta é uma história de ficção, mas que cabe direitinho na nossa realidade. A ilustração “Tem um monstro na minha cozinha”, narrada pelo ator Wagner Moura, conta a experiência de um menino que ao ter sua cozinha invadida descobre como a indústria da pecuária está devorando nossas florestas. E, a partir daí, ele repensa uma de suas escolhas: o consumo de carne. O filme foi criado pela agência Mother e produzido pelo estúdio Cartoon Sallon.
Tem um monstro na minha cozinha Tem um monstro na cozinha Eu não chego perto não Ele tem olhos de fogo E rabo de assombração E garras tão grandes e afiadas Que cortam como facão Destruiu a lista de compras E derrubou a carne do fogão Ele rosnou para os ossos Do nosso churrasco de verão Será que ele está com fome? Espero que eu (gulp) não seja a refeição Tem um monstro na cozinha Que me enche de pavor O que faz aqui, seu monstro? Me explica, por favor Tem um monstro na floresta Eu não chego perto não Fez meu mundo virar cinzas Para criar uma plantação Ração para vacas, porcos e galinhas Que viram carne pra você Enquanto eles enchem os bolsos Nós ficamos à mercê Eles se sentem poderosos Mas um dia pagarão O verdadeiro preço desses atos Em breve todos saberão Tem um monstro na floresta Que me enche de pavor Venho aqui contar para o mundo O tamanho desse horror Ô onça na cozinha Eu já tenho a solução Vamos comer frutas e verduras E trocar carne por feijão Farofa, batata doce, mandioca e agrião Vou chamar todos os guerreiros Da nossa grande nação Ô onça na cozinha Eu já tenho a solução Para salvar sua floresta E acabar com esse vilão
Um pequeno vírus confinou o mundo, parou a economia global, levou embora a vida de milhares e o sustento de milhões de pessoas.
Que lições podemos aprender, graças ao coronavírus, sobre a nossa espécie humana, os paradigmas econômicos e tecnológicos dominantes e a terra?
A primeira coisa que o confinamento nos recorda é que a terra é para todas as espécies e que quando abrimos espaço e liberamos as ruas de carros, a poluição se reduz. Os elefantes podem ter acesso às áreas residenciais de Dehradun e se banhar no Ganges, no ghat de Har Ki Pauri, em Haridwar. Um leopardo vagueia livremente em Chandigarh, a cidade projetada por Le Corbusier. A segunda lição é que esta pandemia não é um desastre natural, assim como os fenômenos climáticos extremos também não são. As epidemias emergentes, assim como a mudança climática, são antropogênicas, ou seja, causadas pelas atividades humanas. Os cientistas nos avisam que ao invadir os ecossistemas florestais, destruir os habitats de muitas espécies e manipular as plantas e os animais para obter lucro econômico, fomentamos o surgimento de novas doenças. Ao longo dos últimos 50 anos, apareceram 300 novos patógenos. Está escancaradamente documentado que 70% dos patógenos que afetam o ser humano, entre os quais estão o HIV, o ebola, a gripe, a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês) e a síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês) surgem quando os ecossistemas florestais são invadidos e os vírus se transferem de animais para pessoas. Quando se amontoam animais em fazendas industriais para maximizar os lucros, afloram novas doenças como a gripe suína e a aviária. A avareza humana, que não respeita os direitos de outras espécies, nem os direitos dos membros de nossa mesma espécie, é a raiz desta pandemia e das pandemias que a seguirão – Vandana Shiva A avareza humana, que não respeita os direitos de outras espécies, nem os direitos dos membros de nossa mesma espécie, é a raiz desta pandemia e das pandemias que a seguirão. Uma economia global baseada na ilusão do crescimento ilimitado se traduz em um apetite insaciável pelos recursos planetários, o que, como consequência, se traduz em uma ilimitada transgressão dos limites do planeta, dos ecossistemas e das espécies. A terceira lição que o vírus nos ensina é que a emergência sanitária está relacionada com a emergência da extinção massiva de espécies. Também com a emergência climática. Ao se utilizar venenos como inseticidas e herbicidas para matar insetos e plantas é inevitável provocar uma crise de extinção. Ao queimar combustíveis que a terra fossilizou há 600 milhões de anos, transgredimos os limites planetários. A consequência é a mudança climática. Os prognósticos dos cientistas estabelecem que se não frearmos esta guerra antropogênica contra a terra e as espécies que a habitam, em cem anos teremos destruído as condições que permitem aos humanos viver e prosperar. Nossa extinção será uma a mais entre as 200 que ocorrem diariamente. Iremos nos converter em uma espécie em risco de extinção pela avareza, arrogância e irresponsabilidade humanas. Todas as emergências que na atualidade colocam em risco vidas têm sua origem na visão mecanicista, militarista e antropogênica dos humanos como seres à margem da natureza, como amos e senhores da terra que podem dominar, manipular e controlar outras espécies como fontes de lucro. Também têm sua origem em um modelo econômico que considera os limites ecológicos e éticos como obstáculos que devem ser superados para aumentar o crescimento dos lucros empresariais. Nesse modelo, não cabem os direitos da Mãe Terra, os direitos de outras espécies, os direitos humanos, nem os das gerações futuras. Durante esta crise e a recuperação após o confinamento, precisamos aprender a proteger a terra, seu clima, os direitos e os habitats das diferentes espécies, os direitos dos povos indígenas, das mulheres, dos agricultores e agricultoras e dos trabalhadores e trabalhadoras. Temos que aprender de uma vez por todas que somos membros da família planetária e que a verdadeira economia é a economia dos cuidados: o cuidado do planeta e o cuidado mútuo – Vandana Shiva Temos que romper com a economia do lucro e o crescimento ilimitado que nos levou a uma crise de sobrevivência. Temos que aprender de uma vez por todas que somos membros da família planetária e que a verdadeira economia é a economia dos cuidados: o cuidado do planeta e o cuidado mútuo. Para prevenir futuras pandemias, carestias e a perspectiva de nos tornarmos sociedades em que a vida humana não tenha valor, temos que romper com o sistema econômico global que está gerando a mudança climática, a extinção de muitas espécies e a propagação de doenças mortais. O retorno ao local abre espaço para que as diferentes espécies, as diferentes culturas e as variadas economias locais se desenvolvam. Temos que reduzir de maneira consciente nossa pegada ecológica para deixar recursos e espaço disponíveis para outras espécies, para o restante dos seres humanos e para as gerações futuras. A emergência sanitária e o confinamento demonstraram que quando há vontade política, é possível reverter o processo de globalização. Façamos com que esta reversão seja permanente e voltemos à produção local e de proximidade, em consonância com os princípios do swadeshi (autossuficiência) que Gandhi promulgava, ou seja, o restabelecimento da econômica doméstica. Nossa experiência no [movimento] Navdanya nos ensinou, ao longo de três décadas, que os sistemas de produção de policultivos locais e ecológicos são capazes de prover alimento à população sem empobrecer o solo, poluir a água e danificar a biodiversidade. A riqueza da biodiversidade são as matas, os cultivos, os alimentos que consumimos, a microbiota intestinal, um fio condutor que comunica o planeta e suas diferentes espécies, também os seres humanos, por meio da saúde, não da doença. Um pequeno vírus pode nos ajudar a dar um grande passo à frente para fundar uma nova civilização planetária ecologista, baseada na harmonia com a natureza. Ou, então, podemos continuar vivendo a fantasia do domínio sobre o planeta e continuar avançando até a próxima pandemia. E, por último, até a extinção.
A terra seguirá, conosco ou sem nós.
*Nascida na Índia em 1952, Vandana Shiva é autora de vários livros, entre os quais “Guerra por Água”, “Biopirataria” e “Monoculturas da Mente”. Tem mestrado em Filosofia da Ciência e é doutorada em Física da Partícula.
Fonte: EcoDebate, 16/04/2020 - publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
O IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS
Soberania alimentar tem a ver com alimentos saudáveis, com cultura, com hábitos alimentares, com sistemas locais, com respeito ao meio ambiente, etc. O objetivo primeiro e central é a produção de alimentos saudáveis e variados, com qualidade e quantidade necessárias e suficientes, através de sistemas diversificados de produção. Uma nação é soberana, isto é, manda no seu próprio nariz, é dona de seu próprio destino, quando ela tem alimentação suficiente para todo o seu povo comer e ainda estoque para vários anos. Ter comida suficiente e estocada significa Soberania Alimentar. Por isto, o desafio para o Estado Brasileiro é a organização da produção de alimentos através de um sistema que articule a produção diversificada de alimentos saudáveis, visando a alimentação de toda a população com alimentos de qualidade, sustentabilidade dos meios e sistemas produtivos para as atuais e futuras gerações e a distribuição justa e equitativa para o conjunto da população. O Brasil, mesmo sendo grande exportador de alimentos e grãos, ainda tem em seu território mais de 12 milhões de pessoas famintas, outros tantos milhões que desperdiçam alimentos. Soberania alimentar ainda não foi alcançada e estes fatos demonstram necessidade de mudanças profundas no modelo agrícola vigente. Isto significa uma política nacional de produção e distribuição que garanta alimentação: Suficiente para atender todas as necessidades da população; Estável para enfrentar anos ou momentos de baixa produção por problemas de clima, com boa política de estoques; Autônoma com autossuficiência nacional de alimentos básicos; Sustentável garantindo o uso permanente de nossos recursos naturais; Justa e igualitária garantindo o acesso de cada cidadão ao mínimo que uma pessoa precisa para se alimentar bem, tanto em quantidade como em qualidade; Variedade garantindo uma alimentação equilibrada e nutritiva; Limpa e saudável, livre de venenos, agrotóxicos, hormônios artificiais, anabolizantes, antibióticos, transgênicos, produzida ecologicamente.
Soberania Alimentar Começa em Casa
Para a família camponesa, soberania alimentar começa em casa, produzindo de tudo para seu próprio consumo, garantindo sua subsistência, não dependendo do mercado para garantir seu autossustento e excedentes em quantidade e qualidade que contribuam para a soberania alimentar do país. A produção de alimentos para o consumo familiar é muito importante para as famílias camponesas, pois reduz o custo com aquisição de alimentos no mercado, melhora a qualidade alimentar, diversifica a dieta da família, além de garantir alimentos livres de agrotóxicos. De modo especial, a horta caseira, plantio de mandioca, feijão, abóboras, batatas, criação de galinhas e ovos, porcos, entre outros, e a plantação de frutíferas contribui com a produção para o autossustento da família.
Sistemas Camponeses de Produção e Alimergia
O principal meio de garantir Soberania Alimentar são os Sistemas Camponeses de Produção (SCP) que é o contrário de “cadeia produtiva”. A cadeia produtiva prende o agricultor num só produto, vinculado a poucas indústrias e com pacotes prontos. É bom para a indústria e para o capitalista, ruim para as famílias camponesas. A cadeia produtiva é feita para criar dependência. O conceito e a prática dos Sistemas Camponeses de Produção (SCP) vêm sendo empregados por alguns Movimentos Camponeses, em alternativa ao conceito de cadeia produtiva. Implícito no conceito de cadeias produtivas está a organização da produção de forma integrada ao mercado, dependência do capital financeiro, aumento de fluxos de mercadoria e subordinação ao mercado, emprego de insumos energéticos e materiais externos petro-dependentes e deterioração ambiental. Não se trata de uma questão semântica, cada conceito reflete uma lógica de pensar, planejar, organizar e praticar agricultura. Os Sistemas Camponeses de Produção derivam-se de um novo paradigma – ALIMERGIA (Alimento, Meio Ambiente, Energia) – o qual busca integrar de forma justa e ecológica a produção de alimentos, energia, serviços ecossistêmicos e a ocupação popular do território. Alimergia é uma nova maneira de enxergar agricultura, pecuária e floresta e que procura desenvolver formas de produzir que juntem de maneira combinada a produção de alimentos e de energia com preservação ambiental. A alimergia visa a soberania alimentar e energética das comunidades e dos povos de maneira integrada e harmônica com os ecossistemas locais. No entanto, isso só será possível através de sistemas agrícolas de base ecológica, de modo especial a Agroecologia, o que implica em sistemas diversificados de produção. É necessário criar meios através de apoio dos governos e da sociedade que garantam que o Brasil produza alimentos, energia renovável, cuide do meio ambiente e reduza a crise do clima que tanto prejudica os agricultores construindo um sistema de produção no campo que equilibre a produção de Alimentos com a Preservação dos Recursos Naturais, com a diversificação dos sistemas de produção agropecuária, combinando com a produção de Energia proveniente da biomassa, do sol, do vento e de pequenos e médios aproveitamentos hidroelétricos, fortalecendo as condições para a soberania energética local e nacional. Os SCP são sistemas de produção altamente diversificados, que têm como base social as famílias e as comunidades camponesas. Suas principais características são: a integração da produção animal e vegetal (agrícola e florestal); prioridade na produção para o autoconsumo e para o mercado local e regional; preservação dos recursos ambientais estratégicos como água, solo e biodiversidade; combinação de plantios anuais com plantios perenes; utilização, ao máximo, de insumos de origem local, comunitária ou regional. Utiliza os subprodutos de uma produção para a outra, buscando a sustentabilidade geral do sistema pela diversificação da produção. Busca a autonomia genética e tecnológica, e integração de novos conhecimentos e técnicas ao conhecimento já existente, sem deixar que eles desintegrem o sistema.
Os Sistemas Camponeses de Produção buscam juntar de forma justa e ecológica a produção de alimentos, energia, serviços ecossistêmicos e a ocupação popular do território. Os SCP podem ser organizados das mais variadas formas possíveis, tendo no bioma sua base ecológica e na cultura camponesa sua base social, através de novas formas de produção e cooperação, ampliando a autonomia e a liberdade dos camponeses, abrindo novos caminhos para comercialização com as cidades e mudando as formas de do campo se relacionar com as cidades.
Os Sistemas Camponeses de Produção têm como base social as famílias e as comunidades camponesas. Suas principais características são: – Integração da produção animal e vegetal (agrícola e florestal); – Prioridade na produção para o autoconsumo e para o mercado local e regional; – Preservação dos recursos ambientais estratégicos como água, solo e biodiversidade; – Combinação de plantios anuais com plantios perenes; – Utilização, ao máximo, de insumos de origem local; – Utilização dos subprodutos de uma produção para a outra, de modo a buscar a sustentabilidade geral do sistema pela diversificação da produção; – Busca da autonomia genética e tecnológica e integração de novos conhecimentos e técnicas aos saberes já existentes, sem deixar que eles desintegrem o sistema.
Comercialização da Produção Camponesa
A comercialização da produção camponesa é uma necessidade e algo que é feito por todas as famílias camponesas. Há várias formas de comercialização como feiras, atravessadores, indústrias, exportadores, cerealistas, etc… essas formas de comercialização dependem de um conjunto de fatores como os produtos produzidos, a distância da cidade, o tamanho da cidade, etc. Atualmente a população enfrenta um conjunto de doenças (diabetes, hipertensão, gastrites, problemas cardiovasculares, obesidade, câncer, depressão) diretamente associadas à alimentação inadequada e contaminada, seja na produção com o uso de agrotóxicos, anabolizantes e antibióticos, seja na indústria com a adição de um monte de produtos químicos para conservar os produtos, e ao mesmo tempo o fantasma da fome volta a rondar milhões de lares brasileiros, seja pela queda da renda destas famílias seja pelo aumento do preço dos alimentos. Sobre a produção muito se fez e há acúmulos práticos e teóricos para avançar na massificação da produção agroecológica. O maior desafio colocado é o tema da comercialização, com a política de Estado do Programa de Aquisição de Alimentos estava dando bons passos, mas com o desmonte dessa política pela nova governança nacional, há que se buscar outros caminhos. Não há receita, mas é importante compartilhar princípios e experiências que estão sendo feitas. Primeiro, é importante ter claro que para se ter a totalidade das famílias camponesas fazendo agroecologia e uma política de abastecimento popular massiva, só são possíveis como política de Estado clara, ampla, contundente e abrangente, que tenha como centralidade a pessoa humana e não o capital, portanto, uma política anticapitalista. Em segundo lugar, há que se ter clareza da amplitude e do significado do que estamos fazendo, pois estamos provando pela prática que somos capazes de abastecer a humanidade de alimentos saudáveis, que os camponeses são parte do futuro e não resíduo do passado, que produzir alimentos sem agrotóxicos é possível, que romper com a alienação entre quem produz e quem consome, é central. Assim a comercialização na estratégia política do campesinato, neste momento histórico vai MUITO ALÉM DE SIMPLESMENTE VENDER, o processo de comercialização deve cumprir uma função de legitimação do campesinato enquanto produtores de alimentos saudáveis, mas fundamentalmente junto à população urbana que precisa entender a problemática do campo e entrar na luta para defender os camponeses e sua forma de produzir alimentos. Portanto, produzir alimentos saudáveis, comercializar e consumir alimentos saudáveis deve ser entendidos por todos como um ato político de profunda contestação à ordem, é um enfrentamento direto à lógica agroalimentar promovida pelo capitalismo. E neste sentido a comercialização é a ponte que liga campo e cidade.
O que se está fazendo e se pode fazer: Nas cidades do interior, nas pequenas cidades: incentivar as famílias a fazerem feira livre, debater com igrejas, escolas, sindicatos urbanos, organizações, associações, a importância dos alimentos saudáveis e da feira. Fazer das feiras espaços de formação política sobre os alimentos, luta e resistência camponesa; Mercados populares ou mercearias camponesas também são importantes mecanismos de comercialização; Nas cidades regionais: potencializar as feiras já existentes e incentivar as famílias que tiverem condições a participar. Pode-se organizar o transporte coletivo da produção, organizar estrutura de armazenamento e distribuição nestas cidades, abrir novos pontos de feira de alimentos saudáveis. A venda de cestas de alimentos, a criação de redes de consumidores de alimentos saudáveis, a criação de mercados populares em parceria com organizações urbanas, abastecimento de restaurantes e cozinhas comunitárias, todas estas são possibilidades. Estas cidades têm mais possiblidades de relação política, e tem-se condições de atingir uma massa maior de pessoas. Assim, nosso debate político poderá ganhar um eco maior, mas temos que fazer nossa parte, tanto na articulação e no estabelecimento de relação entre os camponeses e suas organizações como na relação direta com o povo consumidor; Nas capitais e grandes centros: é onde hoje estão mais agudas as contradições do modelo agroalimentar, o centro rico obeso e doente e a periferia convivendo com a falta de alimentos, tendo que fazer opções do que colocar na mesa. Pequenas ações de comercialização poderão gerar um impacto político de grande efeito. Todas as possibilidades de comercialização colocadas acima são viáveis. Exige maior nível de organização e este é o grande desafio no campo e na cidade.
* Frei Sérgio Antônio Görgen, frade franciscano e militante do MPA. Publicado originalmente pela 6ª Semana Social Brasileira da CNBB
O setor de brinquedos liderou em 2019 a publicidade infantil na TV e é sabido que 90% dos brinquedos são feitos com alguma parte de plástico. Veja, abaixo, algumas respostas a dúvidas frequentes sobre o tema e as principais mensagens que esse estudo apresenta.
A pesquisa foi conduzida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Química Verde, Sustentabilidade e Educação (GPQV), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a pedido do Programa Criança e Consumo, do Instituto Alana.