sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Leitura Crítica da Mídia: Conversa de Professor/a sobre Meio Ambiente e Comunicação


Na Oficina sobre Meio Ambiente e Comunicação realizada em novembro de 2020 para a Fundação Ecarta são citados alguns nomes e filmes, bem como sites para refletir sobre o tema. 

Seguem algumas referências, caso queira se aprofundar:


Sobre o uso de mídias sociais, como Facebook, Whatsapp, Google:



JULIAN ASSANGE - fundou o site WikiLeaks em 2006 e ganhou atenção internacional em 2010 quando o site publicou uma série de documentos sigilosos do governo dos Estados Unidos, entre eles o ataque aéreo a Bagdá em 12 de julho de 2007, registros de guerra do Afeganistão e do Iraque e o CableGate (novembro de 2010).  Em outubro de 2020 encontra-se sob custódia da Polícia Metropolitana de Londres após ser preso em 11 de abril de 2019, sob a acusação de ter violado as condições estabelecidas na sua fiança em 2010. Antes, ele estava refugiado na embaixada do Equador em Londres, vivendo lá como refugiado de 2012 até seu encarceramento, em 2019.




EDWARD SNOWDEN- analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da Agência Central de Inteligência (CIA) e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA-National Security Agency) dos Estados Unidos. tornou-se conhecido ao divulgar detalhes sobre o sistema de vigilância global norte-americano através dos jornais The Guardian e The Washington Post. O governo dos Estados Unidos acusou-o de roubo de propriedade, comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de informações classificadas como de inteligência. Atualmente, Snowden está na Rússia. 


QUEM SÃO OS DONOS DA MÍDIA?

Quem controla a mídia
http://brazil.mom-rsf.org/br/



Políticos Donos da Mídia
https://intervozes.org.br/politicos-donos-da-midia-levantamento-do-intervozes-em-10-estados-denuncia-pratica-ilegal-de-candidatos-que-sao-proprietarios-de-canais-de-radio-e-tv/



Série O Voto que Devasta - Donos de Gado, Terra, Tv e Rádio 
De Olho nos Ruralistas 


Acusado de grilagem, desmatamento e tráfico, prefeito é retransmissor da Globo em Itaituba (PA):
https://bit.ly/38zWLug
Por Alceu Luís Castilho e Luís Indriunas

Acúmulo de poder econômico e midiático influencia eleições, afirma Intervozes:
https://bit.ly/3loiyZp
Por Patrícia Cornils


Sessenta e cinco candidatos a vereador e vice-prefeito são donos de rádios e TVs:
https://bit.ly/3nj7gpV
Por Alceu Luís Castilho e Sarah Fernandes


Cinquenta e um candidatos a prefeito em 21 estados declaram possuir rádios e TVs:
https://bit.ly/3ne3UEl
Por Alceu Luís Castilho e Patrícia Cornils




SUGESTÃO DE LEITURA:

Como as multibilionárias empresas de tecnologia usam seu poder para influenciar jornalistas, blogueiros e youtubers
https://manualdousuario.net/empresas-tech-influencia-jornalistas/




FILMES


Documentário O Dilema das Redes -  Disponível em https://www.netflix.com/br/title/81254224

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=7X54fS0SQyw


Documentário Privacidade Hackeada - Disponível em https://www.netflix.com/br/title/80117542

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=wjXYCrxRWqc


VÍDEOS E ÁUDIOS




Discurso de Greta Thunberg na COP 25 (dezembro de 2019): https://www.youtube.com/watch?v=uoKJcBMQRnA

Para LER o discurso completo: https://news.un.org/pt/story/2019/12/1697531

Para saber mais sobre Greta Thuberg:

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/23/opinion/1569250791_978883.html

https://brasil.elpais.com/noticias/greta-thunberg-ernman/









Amazônia Centro do Mundo - assista aos vídeos AQUI: http://claraglock.blogspot.com/2019/12/amazonia-centro-do-mundo.html



Vídeo com o depoimento de Maria do Socorro, quilombola: 

Sobre a denúncia de Maria do Socorro contra a refinaria de alumínio da Hydro Alunorte situada no município de Barcarena, no estado do Pará, leia também: https://brasil.mongabay.com/2018/04/a-norsk-hydro-acusada-de-vazamento-toxico-no-rio-amazonas-admite-possuir-tubulacao-clandestina/


https://www.brasildefato.com.br/2020/02/22/moradora-de-barcarena-pa-tenho-medo-de-morrer-subterrada








Vídeo com a íntegra da Transmissão ao Vivo "Vozes da Juventude na Amazônia"
AQUI: https://www.youtube.com/watch?v=QmCYDCp2Fm4




BLOG JOVENS CIDADÃOS

O blog traz conteúdos exclusivos produzidos por jovens comunicadores indígenas de dentro de suas aldeias e comunidades tradicionais sobre como estão enfrentando a pandemia da Covid-19. Cada jovem envia imagens e pequenas histórias para serem publicadas no site da agência Amazônia Real por meio de um aplicativo desenvolvido pela Amazônia Real e pela empresa de tecnologia Cajuideas. Cada comunicador indígena que participa do projeto também é remunerado com bolsas pela produção de conteúdo e receberão equipamentos, como celulares.

Acesse AQUI: https://amazoniareal.com.br/jovens-cidadaos/




PODCAST Encantaria - Ouça AQUI: https://open.spotify.com/show/3UkJPNCwonRI30BMNwj5dy



PODCAST DA REDE DE COMUNICADORES INDÍGENAS DO RIO NEGRO

Leia AQUI: https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/nasce-a-rede-de-comunicadores-indigenas-do-rio-negro

Ouça AQUI: https://soundcloud.com/wayuri-audio/wayuri-boletim1-vs-final-04112017-1




PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 

Mostra Prof. José Lutzenberger - Mostra Lutz - Acesse AQUI: http://gaianarede.blogspot.com/?fbclid=IwAR1bG2QEzosxNMD3HcZ8kyNDflYyEDsWeWHWMPBO24IwMcn0TFBT_RdlgUk




VÍDEOS DO GREENPEACE BRASIL:

Brasil em Chamas - Como a indústria da carne está destruindo nossas florestas

Acesse AQUI: https://www.youtube.com/playlist?list=PLgypAGt9KjpCwaAN-cDx1DAfV_8bs6-aU


Tem um monstro na minha cozinha (Greenpeace Brasil)


Link direto: https://www.youtube.com/watch?v=gLZcafZ8t_4



Esta é uma história de ficção, mas que cabe direitinho na nossa realidade. A ilustração “Tem um monstro na minha cozinha”, narrada pelo ator Wagner Moura, conta a experiência de um menino que ao ter sua cozinha invadida descobre como a indústria da pecuária está devorando nossas florestas. E, a partir daí, ele repensa uma de suas escolhas: o consumo de carne. O filme foi criado pela agência Mother e produzido pelo estúdio Cartoon Sallon.

Tem um monstro na minha cozinha
Tem um monstro na cozinha
Eu não chego perto não
Ele tem olhos de fogo
E rabo de assombração
E garras tão grandes e afiadas
Que cortam como facão 
Destruiu a lista de compras
E derrubou a carne do fogão
Ele rosnou para os ossos
Do nosso churrasco de verão
Será que ele está com fome?
Espero que eu (gulp) não seja a refeição
Tem um monstro na cozinha
Que me enche de pavor 
O que faz aqui, seu monstro?
Me explica, por favor
Tem um monstro na floresta
Eu não chego perto não
Fez meu mundo virar cinzas
Para criar uma plantação
Ração para vacas, porcos e galinhas
Que viram carne pra você 
Enquanto eles enchem os bolsos
Nós ficamos à mercê 
Eles se sentem poderosos
Mas um dia pagarão
O verdadeiro preço desses atos
Em breve todos saberão
Tem um monstro na floresta
Que me enche de pavor
Venho aqui contar para o mundo
O tamanho desse horror 
Ô onça na cozinha
Eu já tenho a solução 
Vamos comer frutas e verduras
E trocar carne por feijão 
Farofa, batata doce, mandioca e agrião
Vou chamar todos os guerreiros
Da nossa grande nação
Ô onça na cozinha
Eu já tenho a solução
Para salvar sua floresta 
E acabar com esse vilão




MÚSICAS:

Passaredo (com Olívia Hime): https://www.youtube.com/watch?v=-RLK1rbDqdE

Eu quero ver (Campanha #ajudapantanal): https://www.youtube.com/watch?v=uk7BetwCWeM&feature=emb_logo





FONTES DE INFORMAÇÃO:

Agência Envolverde - https://envolverde.com.br/

Agência Pública - https://apublica.org/

ClimaInfo - https://climainfo.org.br/

De Olho nos Ruralistas - https://deolhonosruralistas.com.br/

Greenpeace Projeto Escola: https://www.greenpeace.org/brasil/blog/projeto-escola-construindo-um-futuro-mais-verde/

Instituto Socioambiental (ISA) - https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais

Jornalistas Livres: https://jornalistaslivres.org/

Mirim Povos Indígenas do Brasil - https://mirim.org/

Movimento Infância Livre de Consumismo (MIC) - https://milc.net.br/

Repórter Brasil - https://reporterbrasil.org.br/

Mongabay Notícias Ambientais para Informar e Transformar -

https://brasil.mongabay.com/



LEITURAS

Um vírus, a humanidade e a terra

Artigo de Vandana Shiva*


Um pequeno vírus confinou o mundo, parou a economia global, levou embora a vida de milhares e o sustento de milhões de pessoas. 

Que lições podemos aprender, graças ao coronavírus, sobre a nossa espécie humana, os paradigmas econômicos e tecnológicos dominantes e a terra?

A primeira coisa que o confinamento nos recorda é que a terra é para todas as espécies e que quando abrimos espaço e liberamos as ruas de carros, a poluição se reduz. Os elefantes podem ter acesso às áreas residenciais de Dehradun e se banhar no Ganges, no ghat de Har Ki Pauri, em Haridwar. Um leopardo vagueia livremente em Chandigarh, a cidade projetada por Le Corbusier.
A segunda lição é que esta pandemia não é um desastre natural, assim como os fenômenos climáticos extremos também não são. As epidemias emergentes, assim como a mudança climática, são antropogênicas, ou seja, causadas pelas atividades humanas.
Os cientistas nos avisam que ao invadir os ecossistemas florestais, destruir os habitats de muitas espécies e manipular as plantas e os animais para obter lucro econômico, fomentamos o surgimento de novas doenças. Ao longo dos últimos 50 anos, apareceram 300 novos patógenos. Está escancaradamente documentado que 70% dos patógenos que afetam o ser humano, entre os quais estão o HIV, o ebola, a gripe, a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS, na sigla em inglês) e a síndrome respiratória aguda grave (SARS, na sigla em inglês) surgem quando os ecossistemas florestais são invadidos e os vírus se transferem de animais para pessoas. Quando se amontoam animais em fazendas industriais para maximizar os lucros, afloram novas doenças como a gripe suína e a aviária.
A avareza humana, que não respeita os direitos de outras espécies, nem os direitos dos membros de nossa mesma espécie, é a raiz desta pandemia e das pandemias que a seguirão – Vandana Shiva
A avareza humana, que não respeita os direitos de outras espécies, nem os direitos dos membros de nossa mesma espécie, é a raiz desta pandemia e das pandemias que a seguirão. Uma economia global baseada na ilusão do crescimento ilimitado se traduz em um apetite insaciável pelos recursos planetários, o que, como consequência, se traduz em uma ilimitada transgressão dos limites do planeta, dos ecossistemas e das espécies.
A terceira lição que o vírus nos ensina é que a emergência sanitária está relacionada com a emergência da extinção massiva de espécies. Também com a emergência climática. Ao se utilizar venenos como inseticidas e herbicidas para matar insetos e plantas é inevitável provocar uma crise de extinção. Ao queimar combustíveis que a terra fossilizou há 600 milhões de anos, transgredimos os limites planetários. A consequência é a mudança climática.
Os prognósticos dos cientistas estabelecem que se não frearmos esta guerra antropogênica contra a terra e as espécies que a habitam, em cem anos teremos destruído as condições que permitem aos humanos viver e prosperar. Nossa extinção será uma a mais entre as 200 que ocorrem diariamente. Iremos nos converter em uma espécie em risco de extinção pela avareza, arrogância e irresponsabilidade humanas.
Todas as emergências que na atualidade colocam em risco vidas têm sua origem na visão mecanicista, militarista e antropogênica dos humanos como seres à margem da natureza, como amos e senhores da terra que podem dominar, manipular e controlar outras espécies como fontes de lucro. Também têm sua origem em um modelo econômico que considera os limites ecológicos e éticos como obstáculos que devem ser superados para aumentar o crescimento dos lucros empresariais.
Nesse modelo, não cabem os direitos da Mãe Terra, os direitos de outras espécies, os direitos humanos, nem os das gerações futuras. Durante esta crise e a recuperação após o confinamento, precisamos aprender a proteger a terra, seu clima, os direitos e os habitats das diferentes espécies, os direitos dos povos indígenas, das mulheres, dos agricultores e agricultoras e dos trabalhadores e trabalhadoras.
Temos que aprender de uma vez por todas que somos membros da família planetária e que a verdadeira economia é a economia dos cuidados: o cuidado do planeta e o cuidado mútuo – Vandana Shiva
Temos que romper com a economia do lucro e o crescimento ilimitado que nos levou a uma crise de sobrevivência. Temos que aprender de uma vez por todas que somos membros da família planetária e que a verdadeira economia é a economia dos cuidados: o cuidado do planeta e o cuidado mútuo.
Para prevenir futuras pandemias, carestias e a perspectiva de nos tornarmos sociedades em que a vida humana não tenha valor, temos que romper com o sistema econômico global que está gerando a mudança climática, a extinção de muitas espécies e a propagação de doenças mortais. O retorno ao local abre espaço para que as diferentes espécies, as diferentes culturas e as variadas economias locais se desenvolvam.
Temos que reduzir de maneira consciente nossa pegada ecológica para deixar recursos e espaço disponíveis para outras espécies, para o restante dos seres humanos e para as gerações futuras. A emergência sanitária e o confinamento demonstraram que quando há vontade política, é possível reverter o processo de globalização. Façamos com que esta reversão seja permanente e voltemos à produção local e de proximidade, em consonância com os princípios do swadeshi (autossuficiência) que Gandhi promulgava, ou seja, o restabelecimento da econômica doméstica.
Nossa experiência no [movimento] Navdanya nos ensinou, ao longo de três décadas, que os sistemas de produção de policultivos locais e ecológicos são capazes de prover alimento à população sem empobrecer o solo, poluir a água e danificar a biodiversidade.
A riqueza da biodiversidade são as matas, os cultivos, os alimentos que consumimos, a microbiota intestinal, um fio condutor que comunica o planeta e suas diferentes espécies, também os seres humanos, por meio da saúde, não da doença.
Um pequeno vírus pode nos ajudar a dar um grande passo à frente para fundar uma nova civilização planetária ecologista, baseada na harmonia com a natureza. Ou, então, podemos continuar vivendo a fantasia do domínio sobre o planeta e continuar avançando até a próxima pandemia. E, por último, até a extinção.


A terra seguirá, conosco ou sem nós.


*Nascida na Índia em 1952, Vandana Shiva  é autora de vários livros, entre os quais “Guerra por Água”, “Biopirataria” e “Monoculturas da Mente”. Tem mestrado em Filosofia da Ciência e é doutorada em Física da Partícula.


Fonte: EcoDebate, 16/04/2020 - publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação. 

O IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS

Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2020/04/16/um-virus-a-humanidade-e-a-terra-artigo-de-vandana-shiva/
 

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Soberania Alimentar: o que isso significa mesmo? 


Artigo do Frei Sérgio Görgen*


Publicado em outubro 16, 2020


Soberania alimentar tem a ver com alimentos saudáveis, com cultura, com hábitos alimentares, com sistemas locais, com respeito ao meio ambiente, etc. O objetivo primeiro e central é a produção de alimentos saudáveis e variados, com qualidade e quantidade necessárias e suficientes, através de sistemas diversificados de produção.  
Uma nação é soberana, isto é, manda no seu próprio nariz, é dona de seu próprio destino, quando ela tem alimentação suficiente para todo o seu povo comer e ainda estoque para vários anos. Ter comida suficiente e estocada significa Soberania Alimentar.
Por isto, o desafio para o Estado Brasileiro é a organização da produção de alimentos através de um sistema que articule a produção diversificada de alimentos saudáveis, visando a alimentação de toda a população com alimentos de qualidade, sustentabilidade dos meios e sistemas produtivos para as atuais e futuras gerações e a distribuição justa e equitativa para o conjunto da população.
O Brasil, mesmo sendo grande exportador de alimentos e grãos, ainda tem em seu território mais de 12 milhões de pessoas famintas, outros tantos milhões que desperdiçam alimentos. Soberania alimentar ainda não foi alcançada e estes fatos demonstram necessidade de mudanças profundas no modelo agrícola vigente.
Isto significa uma política nacional de produção e distribuição que garanta alimentação:
Suficiente para atender todas as necessidades da população;
Estável para enfrentar anos ou momentos de baixa produção por problemas de clima, com boa política de estoques;
Autônoma com autossuficiência nacional de alimentos básicos;
Sustentável garantindo o uso permanente  de nossos recursos naturais;
Justa e igualitária garantindo o acesso de cada cidadão ao mínimo que uma pessoa precisa para se alimentar bem, tanto em quantidade como em qualidade;
Variedade garantindo uma alimentação equilibrada  e nutritiva;
Limpa e saudável, livre de venenos, agrotóxicos, hormônios artificiais, anabolizantes, antibióticos, transgênicos, produzida ecologicamente.


Soberania Alimentar Começa em Casa


Para a família camponesa, soberania alimentar começa em casa, produzindo de tudo para seu próprio consumo, garantindo sua subsistência, não dependendo do mercado para garantir seu autossustento e excedentes em quantidade e qualidade que contribuam para a soberania alimentar do país.
A produção de alimentos para o consumo familiar é muito importante para as famílias camponesas, pois reduz o custo com aquisição de alimentos no mercado, melhora a qualidade alimentar, diversifica a dieta da família, além de garantir alimentos livres de agrotóxicos. De modo especial, a horta caseira, plantio de mandioca, feijão, abóboras, batatas, criação de galinhas e ovos, porcos, entre outros, e a plantação de frutíferas contribui com a produção para o autossustento da família.


Sistemas Camponeses de Produção e Alimergia


O principal meio de garantir Soberania Alimentar são os Sistemas Camponeses de Produção (SCP) que é o contrário de “cadeia produtiva”. A cadeia produtiva prende o agricultor num só produto, vinculado a poucas indústrias e com pacotes prontos. É bom para a indústria e para o capitalista, ruim para as famílias camponesas. A cadeia produtiva é feita para criar dependência.
O conceito e a prática dos Sistemas Camponeses de Produção (SCP) vêm sendo empregados por alguns Movimentos Camponeses, em alternativa ao conceito de cadeia produtiva. Implícito no conceito de cadeias produtivas está a organização da produção de forma integrada ao mercado, dependência do capital financeiro, aumento de fluxos de mercadoria e subordinação ao mercado, emprego de insumos energéticos e materiais externos petro-dependentes e deterioração ambiental. Não se trata de uma questão semântica, cada conceito reflete uma lógica de pensar, planejar, organizar e praticar agricultura. Os Sistemas Camponeses de Produção derivam-se de um novo paradigma – ALIMERGIA  (Alimento, Meio Ambiente, Energia) – o qual busca integrar de forma justa e ecológica a produção de alimentos, energia, serviços ecossistêmicos e a ocupação popular do território.
Alimergia é uma nova maneira de enxergar agricultura, pecuária e floresta e que procura desenvolver formas de produzir que juntem de maneira combinada a produção de alimentos e de energia com preservação ambiental. A alimergia visa a soberania alimentar e energética das comunidades e dos povos de maneira integrada e harmônica com os ecossistemas locais. No entanto, isso só será possível através de sistemas agrícolas de base ecológica, de modo especial a Agroecologia, o que implica em sistemas diversificados de produção.
É necessário criar meios através de apoio dos governos e da sociedade que garantam que o Brasil produza alimentos, energia renovável, cuide do meio ambiente e reduza a crise do clima que tanto prejudica os agricultores construindo um sistema de produção no campo que equilibre a produção de Alimentos com a Preservação dos Recursos Naturais, com a diversificação dos sistemas de produção agropecuária, combinando com a produção de Energia proveniente da biomassa, do sol, do vento e de pequenos e médios aproveitamentos hidroelétricos, fortalecendo as condições para a soberania energética local e nacional.
Os SCP são sistemas de produção altamente diversificados, que têm como base social as famílias e as comunidades camponesas. Suas principais características são: a integração da produção animal e vegetal (agrícola e florestal); prioridade na produção para o autoconsumo e para o mercado local e regional; preservação dos recursos ambientais estratégicos como água, solo e biodiversidade; combinação de plantios anuais com plantios perenes; utilização, ao máximo, de insumos de origem local, comunitária ou regional. Utiliza os subprodutos de uma produção para a outra, buscando a sustentabilidade geral do sistema pela diversificação da produção. Busca a autonomia genética e tecnológica, e integração de novos conhecimentos e técnicas ao conhecimento já existente, sem deixar que eles desintegrem o sistema.

Os Sistemas Camponeses de Produção buscam juntar de forma justa e ecológica a produção de alimentos, energia, serviços ecossistêmicos e a ocupação popular do território. Os SCP podem ser organizados das mais variadas formas possíveis, tendo no bioma sua base ecológica e na cultura camponesa sua base social, através de novas formas de produção e cooperação, ampliando a autonomia e a liberdade dos camponeses, abrindo novos caminhos para comercialização com as cidades e mudando as formas de do campo se relacionar com as cidades.


Os Sistemas Camponeses de Produção têm como base social as famílias e as comunidades camponesas. Suas principais características são:
– Integração da produção animal e vegetal (agrícola e florestal);
– Prioridade na produção para o autoconsumo e para o mercado local e regional;
– Preservação dos recursos ambientais estratégicos como água, solo e biodiversidade;
– Combinação de plantios anuais com plantios perenes;
– Utilização, ao máximo, de insumos de origem local;
– Utilização dos subprodutos de uma produção para a outra, de modo a buscar a sustentabilidade geral do sistema pela diversificação da produção;
– Busca da autonomia genética e tecnológica e integração de novos conhecimentos e técnicas aos saberes já existentes, sem deixar que eles desintegrem o sistema.


Comercialização da Produção Camponesa


A comercialização da produção camponesa é uma necessidade e algo que é feito por todas as famílias camponesas. Há várias formas de comercialização como feiras, atravessadores, indústrias, exportadores, cerealistas, etc… essas formas de comercialização dependem de um conjunto de fatores como os produtos produzidos, a distância da cidade, o tamanho da cidade, etc.
Atualmente a população enfrenta um conjunto de doenças (diabetes, hipertensão, gastrites, problemas cardiovasculares, obesidade, câncer, depressão) diretamente associadas à alimentação inadequada e contaminada, seja na produção com o uso de agrotóxicos, anabolizantes e antibióticos, seja na indústria com a adição de um monte de produtos químicos para conservar os produtos, e ao mesmo tempo o fantasma da fome volta a rondar milhões de lares brasileiros, seja pela queda da renda destas famílias seja pelo aumento do preço dos alimentos.
Sobre a produção muito se fez e há acúmulos práticos e teóricos para avançar na massificação da produção agroecológica. O maior desafio colocado é o tema da comercialização, com a política de Estado do Programa de Aquisição de Alimentos estava dando bons passos, mas com o desmonte dessa política pela nova governança nacional, há que se buscar outros caminhos. Não há receita, mas é importante compartilhar princípios e experiências que estão sendo feitas.
Primeiro, é importante ter claro que para se ter a totalidade das famílias camponesas fazendo agroecologia e uma política de abastecimento popular massiva, só são possíveis como política de Estado clara, ampla, contundente e abrangente, que tenha como centralidade a pessoa humana e não o capital, portanto, uma política anticapitalista.
Em segundo lugar, há que se ter clareza da amplitude e do significado do que estamos fazendo, pois estamos provando pela prática que somos capazes de abastecer a humanidade de alimentos saudáveis, que os camponeses são parte do futuro e não resíduo do passado, que produzir alimentos sem agrotóxicos é possível, que romper com a alienação entre quem produz e quem consome, é central.
Assim a comercialização na estratégia política do campesinato, neste momento histórico vai MUITO ALÉM DE SIMPLESMENTE VENDER, o processo de comercialização deve cumprir uma função de legitimação do campesinato enquanto produtores de alimentos saudáveis, mas fundamentalmente junto à população urbana que precisa entender a problemática do campo e entrar na luta para defender os camponeses e sua forma de produzir alimentos.
Portanto, produzir alimentos saudáveis, comercializar e consumir alimentos saudáveis deve ser entendidos por todos como um ato político de profunda contestação à ordem, é um enfrentamento direto à lógica agroalimentar promovida pelo capitalismo. E neste sentido a comercialização é a ponte que liga campo e cidade.


O que se está fazendo e se pode fazer:
Nas cidades do interior, nas pequenas cidades: incentivar as famílias a fazerem feira livre, debater com igrejas, escolas, sindicatos urbanos, organizações, associações, a importância dos alimentos saudáveis e da feira. Fazer das feiras espaços de formação política sobre os alimentos, luta e resistência camponesa; Mercados populares ou mercearias camponesas também são importantes mecanismos de comercialização;
Nas cidades regionais: potencializar as feiras já existentes e incentivar as famílias que tiverem condições a participar. Pode-se organizar o transporte coletivo da produção, organizar estrutura de armazenamento e distribuição nestas cidades, abrir novos pontos de feira de alimentos saudáveis. A venda de cestas de alimentos, a criação de redes de consumidores de alimentos saudáveis, a criação de mercados populares em parceria com organizações urbanas, abastecimento de restaurantes e cozinhas comunitárias, todas estas são possibilidades. Estas cidades têm mais possiblidades de relação política, e tem-se condições de atingir uma massa maior de pessoas. Assim, nosso debate político poderá ganhar um eco maior, mas temos que fazer nossa parte, tanto na articulação e no estabelecimento de relação entre os camponeses e suas organizações como na relação direta com o povo consumidor;
Nas capitais e grandes centros: é onde hoje estão mais agudas as contradições do modelo agroalimentar, o centro rico obeso e doente e a periferia convivendo com a falta de alimentos, tendo que fazer opções do que colocar na mesa. Pequenas ações de comercialização poderão gerar um impacto político de grande efeito. Todas as possibilidades de comercialização colocadas acima são viáveis. Exige maior nível de organização e este é o grande desafio no campo e na cidade.


* Frei Sérgio Antônio Görgen, frade franciscano e militante do MPA. Publicado originalmente pela 6ª Semana Social Brasileira da CNBB


Fonte: Sul21 
Disponível em https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2020/10/soberania-alimentar-o-que-isso-significa-mesmo-por-frei-sergio-gorgen/