segunda-feira, 25 de junho de 2018

Leitura Crítica da Mídia: Preconceito, violência, misoginia: tá tudo nas músicas!



Dessa arma não saem balas que matam, mas palavras que conscientizam

Desde o cantor Sidney Magal cantando “Se te agarro com outro te mato, te mando algumas flores e depois escapo” a Elza Soares com seu vozeirão explicando que vai pegar o celular, ligar para o 180, e que o agressor vai se arrepender de levantar a mão pra ela, muito tempo se passou. Entre estas duas músicas – “Se te agarro com outro te mato” e “Maria da Vila Matilde” – gerações de mulheres sofreram e sofrem com a violência. Para estudantes que são craques em videogames, frequentam o Facebook, o Youtube, e a Internet em geral, fica fácil identificar as letras de músicas que transmitem preconceitos, misoginia, estímulo à violência contra mulheres, negros e negras, pobres, trans, gays, lésbicas, diferentes em geral – desde que se proponham a PARAR, ESCUTAR, PENSAR, REFLETIR.

Pois música é assunto para discutir em sala de aula, sim! Música também é um canal para estimular a reflexão e questionamentos. Nas oficinas de leitura crítica da mídia que realizei entre maio e junho de 2018 com estudantes do Trabalho Educativo do Polo Marista de Formação Tecnológica, localizado no bairro Mario Quintana, em Porto Alegre (RS), alunos e alunas ouviram músicas do passado e do presente, analisaram letras, descobriram o significado mais doloroso de palavras como feminicídio e racismo, conheceram figuras como Dandara, escutaram Karol Conka, Criolo, Chico Buarque, Bia Ferreira, MC Soffia, Kell Smith, Elza Soares. Constataram que Já teve um tempo em que, nas marchinhas de carnaval e no som de cantores como Luís Caldas, as negras eram agredidas porque tinham cabelo duro, mas hoje se orgulham e saem às ruas bradando seus crespos. E se foi graças a uma ação de mulheres via redes sociais que MC Diguinho teve que pedir desculpas por apologia ao estupro em “Só surubinha de leve”, ainda persistem outras músicas com o mesmo teor.


Na Oficina de Alfabetização Midiática e Informacional – nome formal para o trabalho de conscientização em sala de aula utilizando as mídias como base -, se aprende que é preciso deixar de ser ingênuo e repetir (ou compartilhar) sem pestanejar tudo o que nos é imposto através da televisão, do rádio, do jornal, das revistas, da Internet. Quem repete tudo sem pensar é marionete. Na vida real, as consequências podem ser fatais. Isso inclui músicas que estimulam o uso de drogas lícitas, como o álcool, por exemplo: “Te amando mais que pinga” (Antony e Gabriel, Munhoz e Mariano), ou “Não paro de beber” (Gusttavo Lima). Temas que ganham força especialmente quando associados a festivais, rodeios, festas patrocinadas por....grandes empresas de bebidas alcóolicas, como cervejas, não por acaso! E isto também é motivo de reflexão.


As salas de aula podem e devem ser lugares para se fazer um contraponto e aprofundar essa enxurrada de informações que vêm inclusive através das músicas.



Na busca por letras que cantam e encantam jovens de agora, podem estar as do jovem Chico Buarque de Holanda que compôs “Cálice”, e a do adulto Chico Buarque de Holanda que colocou sua voz e história para incrementar o poder das músicas “O Trono do Estudar” (sobre as ocupações escolares por estudantes em 2016) e “Manifestação” (sobre a Declaração de Direitos Humanos, homenagem da Anistia Internacional). A partir da poesia musicada de Bia Barbosa, pode-se aprender por que “Cota não é esmola”, quem foi Dandara, e até buscar conhecer escritoras jovens como Jarid Arraes – uma palavra leva a outra palavra, que leva a conhecimentos. E O Rappa ensina que “Paz sem voz, não é paz, é medo”. Onde se tem paz sem voz no Brasil? Como se bate a poeira para celebrar as diferenças, como canta Karol Conka? Qual é o meu lugar de fala, como entoa Elza Soares?

Pois a turma do Trabalho Educativo parou, refletiu e produziu sua própria música. E ilustrou cada trecho quadro a quadro (com massinha de modelar), para uma animação em vídeo, e em desenho. O desafio era reproduzir, em pouco tempo, em uma letra de música, situações de conflito. E, mais importante: que não terminassem em violência ou morte. Nota 10 com louvor! O resultado está nas fotos e na letra a seguir.




Dessa arma não saem balas, mas palavras!



A seguir, a música criada por estudantes do Trabalho Educativo:




Nascido e criado nas ruas da Rocinha

Bernardo tinha muita rebeldia,

Gostava do seu primo, porém não se assumia,

Igual a sua mãe desconfiava todo dia,

Certo dia, Bernardo chegou e pediu para conversar

Pera aí, mãe, senta aqui que agora vou explicar,

É um negócio meio complicado,

Mas eu vou ter que falar,

Eu sou gay e tu vai ter que aceitar

Tudo bem, meu filho, eu vou aceitar, não fique preocupado, mamãe vai ajudar...


a turma produzindo a música com instrumentos de percussão improvisados

*Temos que falar

Não podemos nos calar

Nossa alma não tem cor

Mas sim, tem valor

Diversidade,

Direito,

Respeito,

Igualdade*(2x)









Nascidas e criadas,

Nas periferias,

Maras, Daras, Claras

Guardavam suas angústias,

E eram sempre as que sofriam,

Num certo momento, se juntaram e foram à delegacia

Relataram que apanhavam todo dia

E lá deram basta à covardia







*Temos que falar

Não podemos nos calar,

Nossa alma não tem cor,

Mas sim, tem valor,

Diversidade,

Direito,

Respeito,

Igualdade *(2x)







Esse ano é de Copa e eleição,

O que fazer para conscientizar,

A nova geração?



(BONUS)

Falam que a geração atual é Coca-Cola, estão privatizando tudo, até a cultura e a escola

Mas nosso aprendizado é política, é conhecimento

Tá nos nossos direitos!

Se a educação tá precária, vamos lutar para melhorar