sábado, 20 de setembro de 2014

Leitura Crítica da Mídia: MORADIA NÃO É CASO DE POLÍCIA

Texto de Raquel Rolnik

Publicado em 19/09/14 por raquelrolnik




Na última terça-feira, mais uma vez a cidade de São Paulo presenciou cenas absurdas de violência. Mais uma vez – já que esta não foi a primeira – a reintegração de posse de um edifício que, abandonado há anos, havia sido ocupado por famílias sem teto foi executada pela Polícia Militar. Desta vez, foi o prédio do Hotel Aquarius, na Avenida São João, centro da cidade.

Crianças gritando, mulheres tentando se proteger de pauladas, gás lacrimogênio, gente sangrando… cenas de guerra. Mas… guerra de quem contra quem? As cenas que testemunhamos esta semana simplesmente indicam que está tudo errado!

Senão vejamos: seria possível argumentar que a Polícia Militar estava simplesmente executando a ordem judicial para desocupar o prédio. E que só saíram na porrada porque os moradores não quiseram deixar o imóvel pacificamente. Mas, vamos examinar ponto por ponto estas afirmações.

Em primeiro lugar: por que será que mais de 200 famílias ocuparam este – e pelo menos mais uma centena de prédios ou terrenos vazios em São Paulo? Resposta: por que não têm NENHUMA outra alternativa de moradia! Estamos vivendo uma situação de enorme alta nos preços dos imóveis e dos aluguéis, muito superior ao crescimento da renda da população, mesmo considerando o aumento das ofertas de emprego nos últimos anos. E simplesmente o que existe de política habitacional hoje na cidade para uma situação de emergência como esta é: NADA.

Como disse uma moradora à imprensa, depois da reintegração de posse, “os móveis vão para o depósito, e as pessoas pra rua”. Provavelmente, vão para outra ocupação como esta, já que até o mercado de aluguéis de barraco de favela está inflacionado!

Em segundo lugar: o juiz que decretou a reintegração de posse do prédio – e terceirizou “o serviço” para a Polícia Militar –, além de checar se o edifício realmente pertencia aos proprietários que o estavam requisitando de volta, deveria checar também alguns trechos da Constituição Brasileira, do Estatuto das Cidades e do Plano Diretor, que afirmam, com todas as letras, que imóveis vazios ou subutilizados que não estejam cumprindo sua função social estão sujeitos a sanções. Na nossa Constituição, que o juiz esquece de ler, a propriedade, além de constituir um patrimônio de seu dono, tem uma responsabilidade pública em relação à sociedade.

Por volta das 16 horas desta terça-feira, 16, a situação no centro da capital paulista voltou a ficar tensa após confrontos causados pela reintegração de posse de um prédio do Aquarius Hotel ocupado na Avenida São João. A Polícia Militar voltou a lançar bombas de gás na região. Manifestantes fazem barricadas, interrompendo fluxo de veículos.

Este mesmo juiz também deveria saber que, no nosso país, as pessoas têm direitos e, assim como o proprietário tem direito de reivindicar de volta seu prédio, as crianças e as mulheres, os idosos e os mais vulneráveis têm o direito de ser protegidos. Isso significa que não se pode simplesmente decretar que as pessoas têm que cair fora do imóvel, sem também encaminhar, de alguma forma, a proteção para quem vai ficar vulnerável por esta situação.

Trocando em miúdos: há formas e formas de executar reintegrações de posse. A pior delas é deixar nas mãos da Polícia Militar, sem mediadores, sem que organismos de proteção dos direitos sejam acionados e respeitados, participando ativamente, e sem alternativas imediatas. Uma coisa é devolver o imóvel ao proprietário, outra, é o destino das famílias. O encaminhamento das famílias é uma questão social, não um caso de polícia.

O prédio da São João é apenas um entre as centenas de prédios vazios ou subutilizados há anos, às vezes, décadas, que poderiam ser transformados em habitação de interesse social. Mas os programas habitacionais de que dispomos hoje são totalmente inadequados para viabilizar a reforma e reabilitação destes prédios, a fim de atender famílias de tão baixa renda. Como se baseiam na aquisição da propriedade, a conta não fecha jamais…

Recentemente, estive no Uruguai para participar de um evento a convite da Federação Uruguaia de Cooperativas de Moradia (FUCVAM), e pude conhecer de perto uma iniciativa interessante desenvolvida pela Prefeitura de Montevidéu. A prefeitura tem uma carteira de imóveis, inclusive no centro histórico, que são disponibilizados para a Federação, que por sua vez os repassa para cooperativas reformarem ou construírem moradias populares.

Estes imóveis não se tornam propriedade individual de ninguém, são propriedade das cooperativas. Os moradores pagam a estas cotas mensais para cobrir parte dos custos da reforma ou construção e, posteriormente, da manutenção. As famílias moram nestes imóveis com usufruto permanente. Se alguma quiser se mudar, outra família, também cooperativada, também do mesmo extrato de renda, ocupará o seu lugar.

Hoje, em São Paulo, mais de 30 prédios ocupados na região central estão com processos de reintegração de posse em curso. Se não quisermos ver a repetição destas cenas lamentáveis, é urgente mudar os procedimentos de reintegração. Mas é urgente também avançarmos numa política de moradia capaz de oferecer alternativas.

Raquel Rolnik é urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

*Texto originalmente publicado no Yahoo!Blogs.

Leitura Crítica da Mídia: ISTO É RACISMO

Texto de  Djamila Ribeiro publicado em Carta Capital 
19/09/2014 14:36, última modificação 19/09/2014 16:05


As reações da sociedade ao caso Aranha e à nova série de Falabella, 'Sexo e as Nega', mostram o lado mais perverso do racismo no Brasil


Costumo dizer que o Brasil é o país da piada pronta sem graça. Com os últimos acontecimentos envolvendo as ofensas racistas que o goleiro Aranha sofreu e a minissérie Sexo e as Nega, essa constatação só se reafirma.

Santos FC/Divulgação
Patrícia Moreira, a moça que ofendeu Aranha, ganha um enorme espaço na mídia que a quer transformar em vítima. Quando neste País programas de TV e jornais deram espaço para alguém se defender e tentar justificar seu crime? Quem ficou com pena e deu espaço para Angélica Aparecida Souza, que em 16 de novembro de 2005 foi presa por roubar um pote de margarina? Quem fez moção de apoio a ela, quantas apresentadoras a levaram aos seus programas? Angélica passou 128 dias na cadeia de Pinheiros, e por quatro vezes teve o pedido de liberdade provisória negado. Foi condenada a quatro anos de prisão em regime semiaberto. Por roubar um pote de margarina porque não aguentava mais ver seu filho, com então dois anos, passar necessidade.

Cláudia Ferreira, a mulher morta e arrastada pela PM carioca, nas manchetes dos jornais virou a “arrastada”, nem nome ou sobrenome davam a ela, ao contrário do que fazem com Patrícia. Quem criou página de apoio nas redes sociais para a família de Cláudia? Quem ofereceu emprego ao viúvo ou se ofereceu para ajudar os quatro filhos e os quatro sobrinhos que ela criava?

Percebe-se que, no Brasil, crimes contra a propriedade, no caso de Angélica, que roubou uma margarina, são mais importantes e causam mais comoção do que crimes contra a humanidade, no caso do Aranha. Chamar alguém de macaco é animalizar um ser humano, retirar sua humanidade. Cadê a empatia nesses casos? Patrícia Moreira agora diz que quer torna-se um símbolo contra o racismo. Como uma mulher que até agora não se desculpou por ter sido racista quer ser símbolo de uma luta tão cara?

Agora irá trabalhar na ONG CUFA (Central única de Favelas). Piada pronta sem graça. Várias militantes negras com vivência do que é sentir racismo e com acúmulo teórico sobre a questão estão aí desempregadas, e uma moça que não assume seu racismo recebe a vaga assim de mão beijada. Destaco que sou contra o apedrejamento da casa dela assim como os xingamentos machistas proferidos contra ela. Mas sou totalmente a favor de que ela pague pelo que fez.

Miguel Falabella cria uma série onde mulheres negras são tratadas como objetos sexuais e quer ganhar prêmio de senhor do ano. Só o nome da série, Sexo e as Nega, já é problemático. Mulheres negras historicamente são tratadas com desumanidade e, nossos corpos, como mera mercadorias. Quantas apresentadoras negras há na TV? Quantas atrizes? Quantas jornalistas? Não precisa ser um grande estudioso das questões raciais no Brasil para perceber o quanto as mulheres negras são invisíveis aos olhos da mídia.

Em sua história no Brasil, a revista Playboy, por exemplo, teve somente sete mulheres negras em sua capa. Não estou de forma alguma concordando com esse tipo de exploração do corpo feminino, estou dizendo que, mesmo nesse mercado, a carne negra também é a mais barata. Aí, mais uma vez, nos colocam nesses mesmos papéis estereotipados e temos que agradecer a boa vontade. Para piorar, Falabella se compara a Spike Lee ao dizer que o cineasta também fala de sua realidade. Bom, Lee é negro e fala com conhecimento de causa das dores que o afligem. O que Falabella, um homem branco e rico, sabe da realidade das mulheres negras no Brasil? Piada pronta sem graça.

E dizer que as militantes que apontaram o racismo da série são capitãs do mato é se utilizar de seus privilégios para nos calar. Ninguém atacou as atrizes da série e, sim, seu diretor que se acha benevolente por empregar mulheres negras. Alguns senhores de escravos também se achavam bonzinhos por não castigar seus escravos. Queremos outros referenciais, não podemos mais aceitar que a mídia nos reduza somente a essas possibilidades.

Quem conhece minimamente um pouco da história do Brasil sabe que as mulheres negras são tratadas como objetos sexuais desde o período colonial. Ideias racistas devem ser combatidas e não relativizadas e entendidas como "meras opções pessoais de pensamento", ideologias, imaginários, arte, ponto de vista diferente, divergência teórica, opinião. Ideias racistas devem ser reprimidas e não elogiadas e justificadas. Não adianta dizer que HOJE tudo é racismo, mostrando uma explícita ignorância histórica. Este País foi fundado no racismo, não tem nada de novo. A mídia brasileira nem de longe reflete a diversidade do seu povo. E, para perceber isso, basta ligar a televisão ou folhear uma revista.

Algumas pessoas pensam que ser racista é somente matar, destratar com gravidade uma pessoa negra. Racismo é um sistema de opressão que visa negar direitos a um grupo, que cria uma ideologia de opressão a esse grupo. Portanto, fingir-se de bom moço e não ouvir o que as mulheres negras estão dizendo para corroborar com o lugar que o racismo e o machismo criou para a mulher negra é ser racista.

Não vamos nos calar diante desses absurdos, de um País onde vítimas viram algozes. Onde diretor de minissérie racista se faz de vítima e quer ganhar medalha por empregar negras. Não nos esqueçamos que muitas famílias se julgam benevolentes por darem emprego a babás negras. Quem se compadece dos milhares de negros que morrem todos os anos? Das crianças que crescem ouvindo insultos racistas? E o pior é ouvir pessoas dizendo que todo mundo faz isso ou sempre fez como se o fato de isso não se tornar público os ausentassem de culpa. Pois é, antigamente as pessoas morriam de tuberculose. A quem serve esse discurso nostálgico? Antigamente era melhor para quem?

Não nos calaremos. Como diz Maya Angelou no poema Eu Me Levanto (Still I rise):

“Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas, ainda assim, como o ar, eu vou me levantar”.

E temos dito.

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Sobre este tema, leia também:

Crônica de Matheus Pichonelli para Carta Capital publicada em 19/09/2014 - 13:22, última modificação 20/09/2014 às 10:12

Aranha faz História. A torcida do Grêmio, não

Torcedores referendam as ofensas racistas ao vaiar a luta não do atleta, mas do homem. Um homem que se nega a fazer do episódio uma atração de circo

Mário Lúcio Duarte Costa. Guardem este nome. Já vou chegar a ele. Antes, quero dizer que acompanhei, pela tevê, o fim da partida entre Grêmio e Santos, em Porto Alegre, pelo Campeonato Brasileiro. O empate sem gols revela o que foi o duelo, insosso, de resultado nem bom nem mau para nenhuma das equipes. Pelos relatos, descubro que o goleiro Aranha foi o melhor em campo, com ao menos duas boas defesas que garantiram o ponto fora de casa. A crônica esportiva termina aqui. A História, com H maiúsculo, não.

Aranha acabava de voltar ao palco onde, semanas atrás, fora hostilizado por ofensas racistas vindas de parte da arquibancada gremista. De lá saíram gritos e imitações de macaco. Eram uma referência à sua cor de pele, negra. O goleiro pediu a interrupção da partida, vencida pelo Santos por 2 a 0. Deixou o campo atordoado. "Dói", dizia ele à beira do campo.

Por não aceitar a ofensa, relatada aos árbitros da partida, Aranha criou constrangimento às autoridades esportivas. Elas se viram obrigadas a eliminar o Grêmio da Copa do Brasil devido ao comportamento de sua torcida.

Antes do reencontro de quinta-feira 18, no mesmo palco, um país inteiro passou a debater um tema ainda entranhado nas relações sociais. Tão entranhado que se naturalizou, a ponto de, muitas vezes, nem sequer incomodar.

Aranha se incomodou. E não fez questão de esconder.

Como preço, é provável que tenha passado alguns dos piores dias de sua vida. Depois daquele jogo, uma das torcedoras, flagrada aos gritos de "macaco" na arquibancada, passou a sofrer ameaças nas redes sociais. Foi demitida e teve a casa incendiada por um maluco. Ela não teve tempo de se arrepender ou calcular a dimensão de seu ato: o justiçamento de sempre, um erro em qualquer lado da história, tirava dela o direito de ser julgada por uma lei já existente. Cassara, com mandado próprio, o direito à vida da torcedora.

De repente, Aranha era o pivô de tanto ódio. Não fosse seu "melindre", a torcedora estaria a salvo, o Grêmio seguiria na Copa do Brasil e o racismo voltaria ao rol de temas "menores" de um país que, nas palavras de muita gente autorizada, tem problemas mais sérios para resolver. Entre os defensores da tese está o técnico do Grêmio, Luiz Felipe Scolari, que até ontem dirigia a seleção brasileira. Ele tratou a reação de Aranha como uma "esparrela", um estardalhaço promovido por quem tentava se vitimar para prejudicar alguém - no caso, os gremistas. Pelé, maior jogador de todos os tempos, também condenou o goleiro com argumentos do arco da velha: se ele, o Atleta do Século, tivesse de parar uma partida toda vez que era chamado de "macaco" não haveria mais futebol. Segundo ele, quanto mais se fala em racismo, mas ele se aguça.

Pelé, em seu tempo, não parou o jogo, o racismo voltou para debaixo do tapete, e a fatura segue nas costas de Aranha e seus contemporâneos, que hoje tentam interromper uma partida que deveria ter sido parada há muito tempo.

Não bastasse tanta ofensa - à sua cor, ao seu caráter e à sua inteligência - Aranha voltou a campo ontem como vilão. Desta vez, não ouviu xingamentos racistas das arquibancadas, mas vaias. Muitas. Cada uma delas era o triunfo do direito de ofender sobre o direito de se sentir ofendido. Ou de reagir à ofensa. As vaias eram o referendo aos gritos de "macaco" do último duelo. Eram o recado de que tanto faz o que existe debaixo da epiderme: o que vale é ganhar o jogo. É se dar bem. É levar vantagem. E qualquer reação a isso é apenas “esparrela”.

As vaias foram o trunfo do país de Pelé e Felipão. Um país que joga às costas da vítima o peso de ser ofendido. Um país que valida, pela ignorância, o cientificismo torto de séculos passados que colocavam o negro no meio do caminho entre os símios e o homem branco. Este cientificismo baseou a ideia de supremacia racial e influenciou algumas das maiores atrocidades da História. Por isso ela ofende. Por isso chamar um branco alto de “girafa” não tem o mesmo peso que chamar um negro de “macaco”: apenas um deles fora escravizado pela História.

A manifestação de ontem da torcida gremista era a manifestação da derrota: a derrota de Aranha, a derrota de um país inteiro que apenas finge que deixou de açoitar seus antigos escravos. Apesar disso, ele jogou. Foi o melhor da partida, segundo a crônica esportiva. A mesma crônica que, ao fim do duelo, cercou o jogador para arremessa-lo ao centro do picadeiro com uma única pergunta: “como se sente?”

Acossado, Aranha tentava explicar que deixava o campo entristecido pela reação da torcida, que referendava a ofensa do último duelo. Mas vaia era vaia, admitia, e contra ela não tinha o que fazer.

Um dos repórteres, em tom de deboche, chegou a questionar: “E qual a diferença?”.

“Você sabe a diferença”, respondeu Aranha.

“Não sei: me diga”, desafiou o sujeito do microfone, como se não soubesse.

“Você acha certo o que aconteceu?”, questionou o goleiro.

O repórter respondeu algo como “não tenho que achar nada”. E Aranha, mais uma vez, deixou o campo balançando a cabeça em tom de incredulidade. Tinha toda razão para ver e não crer.

Já nos vestiários, um pouco mais calmo, ele voltou a ser questionado sobre o assunto. Os repórteres queriam saber por que ele se negava a se encontrar com a torcedora que o ofendera e que estava sedenta por um abraço e pelo seu perdão. O circo dava ao goleiro o papel de Meursault, o personagem de O Estrangeiro, de Albert Camus, condenado não por um crime, mas por não ter chorado no enterro da mãe. O circo queria ver o goleiro chorar. De preferência, abraçado com a agressora. Queria ver o circo pegar fogo. Aranha, de novo, novamente, outra vez, respirou fundo. E respondeu algo como: “Ir lá, abraçar ela, e toca uma música e tudo mais. Aquela cena toda e só depois dos comerciais… Isso pra mim não adianta. Eu não quero".

Aranha talvez não soubesse, mas acabava de desmontar a “esparrela” armada para ele. Percebeu, muito antes dos homens de seu tempo, o que era um circo. Um circo midiático. E o rejeitou. Como rejeitou a ofensa que agora tantos querem minimizar como “melindre”.

Aranha parou o jogo, um jogo que segue perdendo, para mostrar simplesmente que atrás das cortinas de um circo que não criou existe um homem. Este homem se chama Mário Lúcio Duarte Costa, seu nome de batismo. Que é maior que a alcunha. Que é maior que o próprio esporte. Que não merece ouvir o que ouviu. E que parece disposto a interromper o jogo quantas vezes forem necessárias. Até que o recado seja entendido. Até que um dia a história mude. De vez. Mário Lúcio Duarte Costa acabava de fazer História.

Em tempo: Triste o país que precisa de heróis. Mas, se não é um, Aranha é inegavelmente o rosto de uma luta tão justa quanto necessária. Acho que já gastei minha cota de citações a Caetano Veloso neste ano, mas é impossível assistir à trajetória do goleiro santista sem lembrar da música "O Herói", do álbum Cê:

não quero jogar bola pra esses ratos
já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos
quero ser negro 100%, americano,
sul-africano, tudo menos o santo
que a brisa do brasil briga e balança
e no entanto, durante a dança
depois do fim do medo e da esperança
depois de arrebanhar o marginal, a puta
o evangélico e o policial
vi que o meu desenho de mim
é tal e qual
o personagem pra quem eu cria que sempre
olharia
com desdém total
mas não é assim comigo.
é como em plena glória espiritual
que digo:
eu sou o homem cordial
que vim para instaurar a democracia racial
eu sou o homem cordial
que vim para afirmar a democracia racial

eu sou o herói
só deus e eu sabemos como dói




segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Leitura Crítica da Mídia: filmes que discutem racismo na educação

O Centro de Referências em Educação Integral é uma iniciativa de organizações governamentais e não governamentais para promover a pesquisa, o desenvolvimento, aprimoramento e difusão gratuita de referências que contribuam para a gestão de políticas públicas de Educação Integral no país. Por meio desta plataforma virtual são produzidos e divulgados  materiais de formação, experiências realizadas e notícias sobre o tema e pela organização de workshops e seminários formativos, as organizações uniram seus esforços individuais em um projeto coletivo para apoiar os interessados em fortalecer a agenda de Educação Integral no país, buscando superar o paradigma da Escola em Tempo Integral para um novo conceito sustentado pela articulação de diferentes tempos, espaços e agentes educativos.

As sugestões a seguir foram retiradas do site do Centro de Referências em Educação Integral

13 filmes que discutem racismo na educação

Consciência Negra. Dia em que se relembra a morte de Zumbi dos Palmares, líder de um quilombo,  que lutou incessantemente pela libertação de escravos e por uma sociedade digna. Na perspectiva de discutir como ainda hoje o racismo está presente e como a luta do movimento negro permanece necessária na sociedade brasileira, o Centro de Referências escolheu 13 filmes que tratam da temática no ambiente escolar ou na educação de forma geral. São histórias presentes que nos auxiliam a desvendar a origem dos preconceitos e dar mais passos para que o país como um todo possa vencê-los.
1. Escritores da Liberdade, Richard LaGravenese – EUA/ 2007/Comédia Dramática



Uma nova professora chega a escola tentando mostrar aos estudantes que aquilo que trazem de casa os das ruas faz sentido também dentro da sala de aula. Problemáticas como racismo, desigualdade social e exclusão social dão o mote do filme. Baseado em fatos reais, o longa mostra como a professora Erin Grunwell transformou a relação de aprendizagem  em uma escola dividida por tribos. Escola marcada pela resistência dos estudantes em lidar com as diferenças, é por meio da professora que a discussão de cor/raça é trazida para as atividades, que incluem escrever sobre a história de vida de cada um.
2. Vista a minha pele, Joel Zito Araújo & Dandara - BRA/2004/ Comédia
 O vídeo ficcional-educativo traz em menos de 30 minutos uma paródia sobre como o racismo e o preconceito ainda são encontrados nas salas de aula do Brasil. Invertendo a ordem da história, o vídeo utiliza a ironia para trabalhar o assunto de forma educativa. Nele, negros aparecem como classe dominante e brancos como escravizados e a mídia só apresenta modelos negros como exemplo de beleza.
3. Cultura Negra – Resistência e identidade, Ricardo Malta – BRA/2009 /Documentário
O documentário, produzido pela da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), organizações sociais que combatem a intolerância religiosa e buscam por maior visibilidade da cultura negra. Um dos objetivos do vídeo é contribuir com o debate entorno da Lei nº10639/03, que torna obrigatório a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e inclusão, no calendário escolar, do dia 20 de novembro como “Dia da Consciência Negra”.
4. Olhos azuis, Jane Elliot- 1968/EUA/Documentário



O documentário mostra como foi o trabalho desenvolvido pela educadora norte-americana Jane Elliot, que realizou atividades de conscientização tanto com crianças quanto com adultos brancos, em 1968. O vídeo mostra o processo de conscientização realizado durante as oficinas, no qual os brancos poderiam sentir a discriminação sofrida por negros.
5. Ao mestre com carinho, James Clavell, 1967/ EUA
Um engenheiro desempregado começa a lecionar em uma escola pública da periferia de Londres, formada por estudantes rebeldes e também racistas. Aos poucos, ganha a confiança, amizade e respeito dos alunos.
6. Mãos talentosas, Thomas Carter-2009/EUA/Drama
O filme conta a história de um menino pobre do Detroit. Desmotivado por tirar baixas notas na escola, era motivo de bullying de forma frequente. Incentivado a estudar pela mãe, que voltou a estudar já adulta, Ben Carson torna-se diretor do Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns Hopkins aos 33 anos, em Baltimore, EUA.
7. Encontrando Forrester, Gus Van Sant – 2000/ EUA
O filme trata sobre a história  de Jamal, um adolescente do Bronx que vai estudar em uma escola de elite de Manhattan (EUA).  Mas continua sofrendo discriminação e preconceito por conta de sua cor. Com a ida, conhece o talentoso escritor William Forrester , que percebe seu talento para a escrita e o incentiva a prosseguir nessa área.
8. Mentes Perigosas, John N. Smith -1995/EUA/ Drama
A professora Louanne Johnsonganhar dinheiro com artesanato entra em uma escola da periferia norte-americana e é hostilizada pelos alunos. Percebendo que seu método de ensino não está funcionando Louanne passa a se envolver mais com a diversidade cultural de seus estudantes e, assim, percebe melhor as dificuldades que passam.
9. Entre os muros da escola, Laurent Cantet – 2008/ França/ Drama
François Marin  atua como professor de língua francesa em uma escola de ensino médio, na periferia de Paris, composta por estudantes de diversos países da África, do Oriente Médio e da Ásia. Ele e seus colegas docentes tentam buscar diversas ações para ensinar os estudantes, mas ainda assim encontram dificuldades, dada as condições socioeconômicas em volta da unidade escolar.
10. Separados mas iguais, George Stevens Jr – 1991/ EUA/ Drama
Baseado em fatos reais, “Separados, mas iguais” narra a disputa entre pais de alunos negros  e juízes do Condado de Claredon, na Carolina do Sul, no início dos anos 50. Na época, as escolas separavam os alunos brancos, que claramente tinham acesso à educação de maior qualidade acesso à verba para manter a estrutura das escolas.Um diretor da escola , tem o pedido de um ônibus escolar negado, com o apoio do pai de um de seus alunos, entra com processo contra o estado, alegando a inconstitucionalidade do país ao promover escolas diferenciadas para negros e brancos.
11. Sarafina – o som da liberdade, Darrell Roodt – 1992/África do Sul/Musical
Com Whoopi Goldberg no papel principal, o filme conta a história de uma professora sul-africana que não aceita ver seus estudantes se sentindo diminuídos. Em um processo educativo permanente, ela ensina seus alunos negros a lutarem por seus direitos e compreenderem a sociedade em que vivem, não esquecendo que podem diariamente transformá-la.
12. Preciosa, Lee Daniels – 2009/EUA/ Drama
O filme conta a trajetória de Claireece “Preciosa” Jones, uma garota negra que sofre diversas dificuldades. Quando criança, é abusada e violentada pelos pais. Cresce pobre e passa por uma série de discriminações por ser analfabeta e acima do peso. Após muita insistência pessoal e com a ajuda de uma educadora que muito acredita na sua possibilidade de mudança, Preciosa dá a volta por cima.
13. Alguém falou de racismo, Daniel Caetano – 2002/Brasil/Drama
O filme mistura trechos documentais e ficcionais para contar a história de um professor que decide provocar seus alunos a pensarem sobre o preconceito racial e a construção da sociedade brasileira que sistematicamente segregou negros e brancos.

Leitura Crítica da Mídia: documentários e curtas de ficção sobre indígenas no Brasil



Eles já estavam no Brasil, antes do Brasil dos 500 anos, com sua língua, sua terra e suas tradições. O site Porta Curtas tem uma série de filmes curta-metragem que ajudam a entender a cultura indígena no país.

Confira em : http://portacurtas.org.br/
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